terça-feira, 14 de abril de 2009

resposta

Não, não acredito em homens perfeitos e muito menos em príncipes. Não existe perfeição. Mas decidi despedir a lucidez. Não me dou mais a esse luxo de ser lúcido. Hoje sou eu que estou te livrando da verdade. Estou te pedindo o impossível. Acredita nessas minhas palavras. Segura minha mão, sinta esse meu peito todo fodido, ainda batendo. Não temos escolha. Nossos corações não param. Os filhos da puta nunca param de bater, de espancar nossos peitos, doidos para pular nas mãos de alguém. Sei sobre a bola de espinhos rasgando seu peito, sobre a confusão e a dor e a falta de ar e a perda de chão te deixando sem saber para onde ir, sobre os soluços e as lágrimas queimando teu rosto de menino e entrando na tua gola. Sei sobre nada mais importar, sobre o mundo ficar pequeno e perder o sentido. Já estive lá e sobrevivi. Sozinho, sem ninguém para me dar a mão. Você também vai sobreviver. É forte como eu, nada vai te deixar no chão. E se deixar, estarei aqui para te puxar para cima e te abraçar e te dar colo e te limpar as feridas. Estarei aqui para qualquer coisa, meu querido. O mundo pode cair explodir. Podem vir todos os Ets aniquiladores que Hollywood produziu e produzirá; nada vai me fazer sair do seu lado. Pode ser que um dia você vá embora, nunca se sabe para onde essa vida puta e louca quer nos levar. Não importa. Você existe. É suficiente para me deixar dormir em paz. Então vem meu querido. Vem descobrir que não há ninguém além de nós.
Você me fala, mostra e diz. Cospe em minha cara com sua saliva que não quer mais saber de sofrer. Sei que não quer mais um término por email. Eu nunca quis terminar. Sei o que há no fundo. Conheço com minha própria raiz. Era o que voce temia. Eu não: já estive lá. O amor é uma sombra.
Seus amigos te alertam. Foge dele! Inventam apelidos. Eles e os outros não sabem nada. São rasos. Estupram minha vida. Eu estou com você e estou perdido. Ok. Naquela hora você se entregou pra mim e ninguém nunca se entrega porque são todos cuzões demais e tem medo. Eu sou legal,moço. Volte para mim. Você não fugiu. Você veio correndo para mim. Acho que você se entregou porque me entreguei primeiro. No primeiro tiro joguei minha arma fora e levantei os braços. Eu me rendo. Venha aqui e me renda. Descobre minha alma e meu coração fodido. Não tem espaço para nenhuma cicatriz. Sobrevivo sem tudo. Sem amigos, sem carinho, mas não mais sem você. Eu te amo, porra!
Suporto suas festas, seus amigos. Garotos sem rosto. Milhares deles transbordando por todos os lugares. Todos os corpos oferecendo sorrisos e copos.
Uma das loiras sem gosto se aproxima. Uma loira nanica rosada com cara de estudante de enfermagem. Rosada. Parecida com um porquinho de pelúcia. Fofa, super fofa. Querida e com cara de burra. Ela me perguntou porque minha barba estava mal feita. Eu respondi que minhas gilettes e minha alma estavam gastas. Ela respondeu sorrindo um pouco menos.
Tinha a impressão que a festa inteira me encarava. Menos voce. Virei a quarta, quinta ou sexta dose e fui até a cozinha mantendo a postura para não desmoronar e virar uma pilha de ossos no chão. Cheguei aristocraticamente, como sei ser, e sentei na única cadeira vaga sorrindo.
Minha dor é interna. Não curte a pele, não estraga o corpo. A dor estava toda ali dentro. Meus olhos me delatam. Os olhos fundos, escuros demais. Dor de quem já viu tudo e não espera mais nada. De quem ficou sozinho a vida inteira encarcerado em si mesmo. Vinte sete anos de dor. Mas não se iluda baby, não estou seco. Tudo isto só aumenta o apetite por sentimentos. Não sou um bêbado sentimentalóide.

3 comentários:

Unknown disse...

Perfeito. Sem mais.

Gabriel Lima (Bill) disse...

Sem Palavras.

trintetres disse...

já eu... tenho palavras, palavras lidas e que mostram que aquele que se coloca sempre por baixo, menor e vitimizado, de fato forja o olhar, pois estas palavras lidas foram ditas por quem olha por cima, distante, vendo os outros pequenos lá embaixo.
Olhar olho no olho pode vir a ser uma experiência sadia.
Tente.