Feriado de semana santa. Aproveitei para fugir para minha casa no campo. Não, não é uma casinha nada bucólica como a aquela da canção de Elis. Não tem pau-a-pique e sapé nem carneiros e cabras pastando solenes. Pelo contrário. Seus banheiros parecem saídos da architetural digest. Sinto-me sujo neles. Todos os quartos parecem que foram feitos para saírem em fotos da Caras. Seus lençóis troussard me oprimem como o beijo de um devasso. Ok. Vou me adaptar, lógico. Trouxe tudo que preciso comigo. Rivotril, alguns livros e meu ipod. O resto fui jogando na mala sem preocupação. Qualquer coisa, tem a cidade vizinha que posso comprar algo caso precise. Chego no sítio-fazenda. Mesmo que Salvador esteja a 130 km, parece que ainda está do outro lado do rio.
Trouxe também na bagagem todas aquelas conversas no msn, idéias delirantes que não se deixaram transformar em carne, fato bruto da carne. corpos-palavras com seus silêncios eloquentes. Fujo de você porque sei que inevitavelmente repetiria meus padrões. Fundiria-me a você em uma bolha asséptica que construiria. Redoma de vidro, que ao invés de flor, guardaria carne podre. Sim, nos tornaríamos podres e abjetos. Somos filhos de pais loucos, carentes e degenerados. Nossas mãos brancas e finas não guardam traço de aspereza, mas nos sentimos iluminados. Encontramos todas as verdades que quisemos no silencioso mundo das letras. Como filhos dos mesmos pais, sinto como essa proximidade incestuosa às vezes te causava repugnância. Como voce nunca desejou ser penetrado por mim. Voce quis ser meu duplo, repetir minhas frases sofisticadas e eruditas. Sentir a eletricidade do meu pensamento. Acho que voce me fez te amar para se divertir. Me dissolveu como anágua de puta velha. Te amei em cada segundo. Amo em voce tudo o que dói. Não quero a beleza burra da juventude com seus corações de ervilha. Eu sou exótico. Gosto das coisas que me fogem a percepção. Não soube viver na dor da dúvida. Deixei voce da unica forma que me é possivel de se deixar alguém.
Todas as vezes que tento conversar com voce e me explicar ou esfregar na sua cara o quanto te amo tropeço nas palavras. Prendo a respiração quando estou tenso e os grotejos que saem das minhas cordas vocais ficam quase irreconheciveis pelo excesso de ar que sai da minha boca. Quanto mais minha fala fica incompreensivel, mais isso me angustia, num ciclo interminavel. Acabo deixando que voce preencha essas lacunas com suas cicatrizes. E agora? Estou bêbado. Mas não bebado de álcool, pois esse embriaguez me faria cantar. Estou bebado de uma embriaguez que me faz tremer. Tenho medo de amar voce.
terça-feira, 7 de abril de 2009
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2 comentários:
Caralho, é tudo que tenho a ti dizer, Carvalho.
Muito bom.Muito bom mesmo.
E uma inveja boa dessa sua escrita.
Querendo a minha ser tão assim.
De antemão, tenho muito desse sentimento, carregado no peito, como um caminhão cheio de brita.
Parabéns e um brinde à solidão!
meus olhos salivaram.
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