quarta-feira, 25 de março de 2009
crônica irremediável
Reconheço-me em cada rosto servil que vejo. Rosto de quem é constantemente esmagado por uma completa inabilidade social. Nos outros reparam sempre no sexo ou no corpo musculoso. Em mim sempre olham para o meu defeito. A cada dia que passa minhas patas e antenas ganham substância. Minha metamorfose para uma barata como a de Kafka é lenta e dolorosa. Sinto cada fibra muscular humana que se rompe com uma explosão de dor dar lugar a cartilagem de inseto. Isolo-me dentro de minha redoma de vidro, onde minha dor é crônica e arrasadoramante suportável. O ar do mundo dos que vivem e se arriscam me parece demasiadamente sufocante. Sinto-me fora de uma roda que gira e me cuspiu desde que minhas primeiras máscaras se mostraram inadequadas. Quero me sentir parte de algo. Quero que meu grito seja ouvido. Alimento minha dor com essa egotrip que aqui escrevo e me engano com a sensação de isso me fará ser ouvido. Único consolo possível para quem abdicou de sonhar. Tenho nos olhos a desilusão daqueles que não esperam mais nada de nada nem de ninguém. Falo sobre coisas que ninguém quer ouvir. Todas as possibilidades de expressão me foram negadas. Todas as máscaras que escolhi não funcionam e soam por demasiado frouxas. O intelectual, o pobre menino rico, o revolucionário. Tentei em cada uma delas encontrar um eu que pudesse ser amado. Um pequeno monstro a procura de amor incondicional. O que acontece com pessoas como eu? Morrem sem deixar falta. Só que o pior não é isso. O pior é o caminho até essa morte.
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Um comentário:
Marco Aurélio: "a nossa vida é o que os nossos pensamentos fazem dela"
Emerson: "O homem é o que pensa ser.
Um pensamento não constrói ou destrói uma vida, mas um hábito de pensar pode fazê-lo.
Faça a sua escolha!
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