Despertar era o rito diário de entrada em uma vida para a qual não tinha nenhuma das habilidades mínimas para sobreviver. Todos pareciam ter aprendido tão facilmente, quase que naturalmente, esses passos. Viviam tão simplesmente como respiravam. Já em mim, tudo exigia tanto esforço e tanta dor. As coisas mais simples adquiriam um poder de mistério insondável.
Tinha me acostumado a atribuir tudo ao meu segredo. Quanto mais o guardava para mim, ele parecia se transformar em algo mais monstruoso e assustador, capaz de me descaracteririzar como ser humano diante dos outros se revelado. Esse segredo era sempre substituido por outro quando perdia o seu poder destruidor. Era a minha justificativa para o fracasso de viver.
Me jogava contra a vida que me atropelava a cada segundo impiedosamente. O tempo exercia sobre mim o seu poder devastador de tornar as dores suportáveis pelo simples fato de dar a elas a condição de um corpo sólido. Era como uma corcunda que a cada dia cresce um pouco, mas só se sente a dor de cada novo pedaço de carne que se soma ao todo. O corpo ia se tornando parte indissociável de minha existência e apenas lutava para não torna-lo maior. Livrar- me dele me parecia possível apenas nos sonhos mais distantes, aqueles nos quais deixava até de ser eu mesmo adquirindo uma outra forma. Neles eu precisava de um outro rosto. As máscaras que eu precisaria adquirir se tornavam tão gritantemente descoladas que não cabiam nesse ser que tinha me tornado.
Tinha chegado em um estado em que viver era mais uma preguiça de tomar alguma atitude do que qualquer outra coisa. O sofrimento final e destruidor de minha vida não chegava e vivia sempre colado ao medo de ele chegar. Num esforço psicológico tentava achar o marco incial para esse estado de vida, mas era um novelo tão grande e bem encorpado que nao conseguia achar nenhuma ponta. Tentava me enxergar de fora, mas me contentava com as respostas que recebia do olhar dos outros. Quando cruéis, eram como mais uma facada que me perfurava e por mais destruido que meu corpo tivesse, parecia que ele não conseguia encontrar um calo que o protegesse.
Resolvi não mais optar pelo sopro frio da escuridão. Quero bailar a vida.
segunda-feira, 30 de julho de 2007
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